Embrapa Algodão aprova projeto de pesquisa para controle biológico do bicudo
O controle biológico do bicudo do algodoeiro deve ganhar um novo aliado moderno com o uso de tecnologias da agricultura de precisão. É que acaba de ser aprovado projeto que vai promover a redução de inseticidas químicos e a diminuição considerável das emissões de gases de efeito estufa na cotonicultura brasileira.
Com duração de quatro anos, o projeto está orçado em R$ 509.178,00 e tem como financiadora a Better Cotton initiative (BCI, na sigla em inglês). A ideia é que a pesquisa possa aprimorar métodos efetivos de amostragens e desenvolver tecnologia para compatibilizar o controle químico ao biológico do bicudo do algodoeiro por meio de liberações incrementais da vespinha Catolaccus grandis ,e ao mesmo tempo, reduzir o uso de pesticidas químicos nas lavouras de algodão do Estado de Minas Gerais.
Carlos Alberto Domingues da Silva, pesquisador da Embrapa Algodão, que lidera o projeto, afirma que a junção de tecnologias pode melhorar significativamente o sistema de produção de algodão adotado pelos cotonicultores mineiros, com a utilização de insumos biológicos. “Há uma perspectiva muito boa de definirmos um manejo mais racional de agrotóxicos, reduzindo consideravelmente o número de aplicações desses produtos nas lavouras de algodoeiro e os custos de produção”. O foco se concentra na redução das pegadas de carbono, para mitigar os efeitos deletérios das mudanças climáticas no planeta.
Drones
Uma das principais inovações do projeto será a utilização de drones para a liberação da vespinha-parasitóide do bicudo do algodoeiro, que é capaz de localizar e matar a larva do bicudo dentro do botão floral do algodoeiro. “As aplicações ocorrerão em fileiras alternadas do algodoeiro, diminuindo em 50% a aplicação de inseticidas químicos e, ao mesmo tempo, preservando a população de inimigos naturais das pragas”, detalha o pesquisador, especialista em entomologia no algodoeiro.
A pesquisa também vai selecionar materiais mais adequados para encapsulamento em laboratório e liberação no campo da vespinha, com uso de veículo aéreo não-tripulado (VANT), de larvas do bicudo parasitadas por Catolaccus grandis.
Os pesquisadores da Embrapa vão utilizar também técnicas de medição de imagens por TRL/MRL para determinar a distribuição espacial e a densidade populacional do bicudo do algodoeiro em lavouras de algodão, utilizando varredura aérea de imagens, capturadas em RGB por fotosensores com leitura hiperespectral.
Domingues acrescenta que a pesquisa deverá estabelecer novos parâmetros para aplicações de inseticidas e os custos de produção de algodoeiros manejados exclusivamente com inseticidas químicos em comparação àqueles manejados com o uso de inimigos naturais.
“O parasitóide, que já foi identificado há décadas pela Embrapa, será liberado por drones por sete semanas consecutivas, numa proporção de 700 fêmeas adultas por hectare. As liberações ocorrerão em áreas experimentais controladas da própria Embrapa em Uberlândia (MG) e Campina Grande (PB)”, detalha.
“Nossos objetivos serão: 1) desenvolver um método prático e barato para produção massal do parasitóide Catolaccus grandis em laboratório; 2) selecionar um material mais adequado para encapsulamento em laboratório e liberação no campo de larvas do bicudo parasitadas; 3) desenvolver um modelo de predição de sequestro de CO2 a partir da mensuração de indicadores químicos para a cultura do algodoeiro; 4) viabilizar o monitoramento de populações do bicudo com VANT, por meio de uma solução de software capaz de identificar e monitorar esse inseto, baseado em técnicas de processamento digital de imagens, algoritmos de segmentação, extração de atributos, reconhecimento e detecção de imagens; 5) avaliar a seletividade ecológica do inseticida químico ‘Malation’, utilizado contra o bicudo do algodoeiro sobre em lavouras de algodão; 6) determinar a relação custo/benefício de se produzir algodoeiros manejados com inseticidas seletivos e liberações de inimigos naturais”, acrescenta o pesquisador líder do projeto.
Mais sustentabilidade a cotonicultura
“O que se pretende, na prática, é garantir a sustentabilidade da produção do algodoeiro, restabelecendo a biodiversidade funcional desse agroecossistema por meio da preservação e/ou adição de inimigos naturais. Assim, a maximização dos efeitos dos inseticidas sobre essa praga-chave, com o mínimo impacto sobre seus inimigos naturais com o uso seletivo de inseticidas deve ser buscada visando compatibilizar essas duas estratégias de controle”, diz Carlos Domingues.
Ele destaca ainda que as novas tecnologias deverão melhorar o método tradicional de monitoramento terrestre do bicudo do algodoeiro, que é caro e ineficiente em grandes áreas, por meio de amostragens periódicas na lavoura com o uso do sensoriamento remoto realizado por veículos aéreos não-tripulados (VANT’s).
O projeto prevê implantar e oferecer ao setor produtivo monitoramento e contagem automática de estruturas reprodutivas (brácteas, que são folhas que possuem como principal função atrair polinizadores) do algodoeiro danificadas pelo bicudo em grandes áreas, sem a necessidade da utilização de mão-de-obra qualificada para amostrar esses organismos ao nível do solo. “Isto é essencial, pois o módulo classificador possibilitará identificar e mapear automaticamente os danos do bicudo em extensas lavouras cultivadas com algodoeiro com VANTs, de forma precisa e em tempo real”, comenta o pesquisador.
Carlos Domingues diz que o projeto pretende promover a integração de pesquisadores das áreas de entomologia, bioquímica, química analítica e tecnológica e agricultura de precisão, laboratórios da Embrapa e de profissionais e técnicos das instituições parceiras, especialmente da Associação Mineira dos Produtores de Algodão (AMIPA) e Alta Aerospace Ltda., visando constituir um grupo de profissionais capaz de tornar exequíveis os experimentos propostos. “Ao final do projeto, faremos transferência e incorporação das tecnologias geradas para 10% dos produtores de algodão do Estado de Minas Gerais, o que representa aproximadamente três mil hectares”, detalha o pesquisador.
Além da Embrapa Algodão, o projeto deverá contar com a parceria da Associação Mineira dos Produtores de Algodão (AMIPA), Universidade Federal de Viçosa, a Universidade Estadual da Paraíba e a Universidade Federal de Campina Grande. A equipe é composta também pelos pesquisadores Everaldo Paulo de Medeiros, Francisco de Sousa Ramalho, Fábio Aquino de Albuquerque, José Wellingthon dos Santos, Jaime Garcia Arnal Barbedo (Embrapa Instrumentação) e pelos analistas José Geraldo di Stefano e Ziany Neiva Brandão.
Cooperação estratégica com o setor produtivo
Para o diretor da Amipa, Lício Pena, a cooperação com a Embrapa trouxe a validação daquilo que a instituição acredita. “Hoje a Amipa tem uma Biofábrica que produz inimigos naturais em larga escala e distribui nas lavouras de algodão, soja, milho, feijão, tomate, ervilha e café. Todo o respaldo científico e segurança dessa produção e desse uso a campo é a Embrapa que nos dá. A gente vem evoluindo e crescendo muito junto com a Embrapa. Para nós, é uma cooperação extremamente estratégica, que tem dado para a agricultura do estado de Minas Gerais uma condição de produzir com mais sustentabilidade, com menor carga de químicos, e qualidade do produto final tem sido melhor tanto em produtos têxteis como produtos para a alimentação, com uma pegada de carbono favorável, uma logística reversa, uma economia circular. Tudo isso são frutos que nós temos dessa cooperação, que são imensuráveis”, afirmou.
Fonte: Embrapa Algodão