Piora o cenário para os preços do algodão
A despeito da disparada dos preços na bolsa de Nova York no pregão de ontem, o cenário para as cotações do algodão no mercado globais piorou nas últimas semanas, principalmente por causa do crescente risco de recessão global. E a tendência mantém aceso o sinal de alerta para os produtores e exportadores do Brasil, um dos principais produtores do segmento, onde os preços domésticos têm forte relação com os externos.
Em linha com a valorização do petróleo, os contratos futuros de segunda posição de entrega encerraram esta terça-feira em alta de 4,75%, a 88,20 centavos de dólar por libra-peso. Com isso, a queda acumulada desde o início do ano diminuiu para 20,2%, segundo cálculos do Valor Data, determinada sobretudo pela retração de quase 25% registrada em setembro, mas uma grande sombra paira sobre o mercado.
Ocorre que, embora sofra influência considerável do comportamento do petróleo, uma vez que as fibras naturais competem com as sintéticas, o algodão é uma das commodities agrícolas mais suscetíveis aos altos e baixos da economia. Na crise, as compras de vestuário costumam diminuir.
“Inevitavelmente teremos algum impacto sobre a demanda pelo algodão. A questão é saber qual será o tamanho da queda”, afirma Júlio César Busato, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa).
Mas, segundo ele, por causa do travamento de custos com antecedência, a pressão sobre as cotações não deverá fazer o produtor brasileiro tirar o pé do acelerador nesta safra 2022/23, cujo plantio começará em novembro. De acordo com a Abrapa, a área de plantio crescerá 9,3% em relação a 2021/22, para 1,8 milhão de hectares, e a produção – se o clima colaborar – será 27% maior (3,1 milhões de toneladas).
“Mesmo diante de toda essa incerteza na economia, o importante é que não estamos perdendo área. Ainda que a demanda seja menor, ela precisa ser atendida, e os compradores do país e do exterior querem o algodão brasileiro, [que tem] garantia de qualidade e rastreabilidade”, diz Busato.
Venda antecipadas
Termômetro desse cenário, as vendas antecipadas da produção que será colhida na safra 2022/23 estão atrasadas. O percentual chegou a 60% da colheita estimada, quando o ideal seria 70%. No caso do algodão da temporada 2023/24, as vendas antecipadas sequer chegaram a 10%, quando o esperado era 30%.
“Os produtores seguraram as vendas desde que começaram essas quedas em Nova York. Além disso, ainda há dúvidas sobre o comportamento do clima, especialmente em Mato Grosso, onde o algodão é plantado após a colheita da soja. Se a chuva atrasar o plantio do grão, os produtores podem optar pelo milho, que tem ciclo mais curto que a pluma”, destaca Busato.
Ele projeta que o preço vai voltar a US$ 1 dólar por libra-peso em Nova York apenas a partir de abril ou maio. “Esse pessimismo do mercado sobre o consumo deve se estender por um tempo”, afirma.
No Brasil, os preços também estão em queda. Em setembro, o indicador Cepea/Esalq para a libra-peso posta na Grande São Paulo caiu 15,7% e chegou a R$ 5,7453, seu menor patamar em um ano.
“Desde maio, quando as notícias sobre o risco de recessão ganharam corpo, a queda do preço no Brasil tem sido forte. O mercado tentou sinalizar alguma melhora recentemente, mas a queda mês passado voltou a ser expressiva. A inflação em alta e o aumento dos juros afetam o consumo. Roupa e vestuário são os primeiros itens a sentir a retração na demanda”, diz Lucilo Alves, professor da Esalq/USP e pesquisador de algodão do Cepea. Para o pesquisador, haverá grande volatilidade nos próximos seis meses.
Leia mais:Piora o cenário para os preços do algodão_Valor Econômico.pdf
Mídia: Valor Econômico