Seis anos de Movimento Sou de Algodão
Começamos sem referência e fomos trilhando nosso caminho com acertos e erros, observando, ousando e inovando para termos um futuro mais sustentável. Para tal, estudamos e entendemos o comportamento do nosso consumidor e planejamos a nossa ideia, antes de avançar. Além disso, notamos uma tendência de queda no consumo do algodão no mercado interno, e, considerando que a indústria nacional representava o principal cliente individual do algodão brasileiro, encomendamos uma ampla pesquisa. Com apoio da Bayer, contratamos a consultoria da Markestrat para realizar esse levantamento, que trouxe conclusões importantes e que foram essenciais para a criação de um plano estratégico com o objetivo de impulsionar o consumo da fibra pelo cliente final e aumentar a demanda.
Nessa época, percebemos a necessidade de aprender com iniciativas semelhantes, que nos ajudariam a ter maior assertividade nas ações, facilitando o alcance de resultados desde o início da execução do plano. Um dos aprendizados mais importantes foi quando notamos que era preciso atuar na promoção e na comunicação direta com os públicos para trazer o percentual de consumo da fibra aos patamares desejados. A proposta foi sensibilizar o consumidor para impulsionar a produção de itens feitos com o nosso algodão para, a partir disso, provocar o aumento da demanda no varejo de moda.
Depois de analisar algumas iniciativas como a Cotton Incorporated, dos Estados Unidos, nos juntamos para estruturar o “Plano de Incentivo ao Uso do Algodão” em ações integradas nos pilares informacional, promocional e de negócios. Dessa forma, conseguimos envolver e estimular os diversos públicos, incentivar o uso e promover o fortalecimento da indústria por meio do diálogo e da facilitação de negócios entre os diferentes elos da cadeia.
Com esse trabalho prévio de análise, conseguimos entender que precisávamos inspirar o consumidor, mostrar que a fibra é versátil, democrática e que está presente em vários produtos e segmentos. Por isso, criamos um coletivo e isso é motivo de orgulho. Assim, em 2017, um ano depois do lançamento do Movimento Sou de Algodão, que aconteceu na maior semana de moda da América Latina, o São Paulo Fashion Week, passamos a buscar o apoio de entidades dos setores produtivo, têxtil e de moda, e novas frentes se abriram por meio de apoios financeiros, institucionais e marcas parceiras.
Temos envolvimento das marcas parceiras, dos apoiadores e das instituições de ensino. Com isso, construímos um coletivo que defende e promove a moda responsável. Ao entendermos o papel de cada stakeholder do movimento, mobilizamos e sensibilizamos esses públicos para fortalecer toda a cadeia presente nele. Aos poucos, criamos a consciência de que o algodão não é fim, mas é meio para unir todos em torno desse propósito, porque a produção da fibra tem responsabilidade socioambiental, e, ao usá-la, as marcas e os consumidores são tocados por esse valor.
Ao final de 2017 estávamos com seis apoiadores financeiros, sete institucionais e 11 marcas parceiras destacando Cor com Amor, Love Secret Lingerie, Martha Medeiros, Norfil e a Lojas Renner, maior grupo de varejo de moda, proprietário das redes Renner, Youcom e Camicado, que gerou buzz no mercado e o chamou a atenção de outras marcas a se juntarem ao Sou de Algodão.
Quando lançamos o movimento, havia uma distância entre o campo e as lojas que disponibilizam as peças feitas de algodão, já que produzimos uma fibra com responsabilidade socioambiental e certificação, mas pouco difundida entre os consumidores. Em 2022, comemoramos seis anos de existência e a participação de mais de 1.100 marcas parceiras. Temos muito orgulho de ter a confiança dessas empresas do mundo da moda. Esse número é um marco importante e nos faz crer que estamos no caminho certo, movimentando consumidores por um futuro mais responsável.
Essa união e a comunicação sempre estiveram presentes em nossos objetivos e sonhos, ao criar o Movimento Sou de Algodão, mas também queríamos rastrear o algodão certificado ABR, ao longo da cadeia e isso também virou realidade.
Ao completarmos seis anos de movimento, e a Abrapa com 23 anos e uma cadeia estruturada com iniciativas que visam melhorias na qualidade da pluma e na sustentabilidade, e com o envolvimento de tantas marcas e já dialogando com o consumidor, era hora de tirar do papel um sonho antigo: entregar transparência e estender a rastreabilidade do algodão – que acontecia até a porta da indústria -, até o guarda-roupa das pessoas.
Lançamos, então, em parceria com as marcas Reserva e Renner, um programa inédito, de rastreabilidade por blockchain, de ponta a ponta, da semente ao guarda-roupa, entregando ao consumidor, cada vez mais exigente, a origem comprovadamente responsável do algodão presente na peça.
Além do relacionamento consolidado com marcas, empresas, apoiadores, produtores, empreendedores e tecelagens, o Movimento Sou de Algodão se aproximou de um público muito importante para a cadeia e para o futuro da moda: os estudantes. Pensando nisso, lançamos o Desafio Sou de Algodão + Casa de Criadores, um concurso nacional para alunos de design e moda, que tem como objetivo gerar conhecimento e experiência com a fibra e revelar novos talentos para a semana de moda autoral.
Para mim, Silmara, esse concurso é uma das ações mais importantes que realizamos, já que lançamos luz sobre novos talentos que a cada Desafio, brilham cada vez mais.
Esse é um pouquinho do nosso trabalho que cresce a cada dia. Tenho muito orgulho de, ao lado de uma equipe dedicada e criativa, gerir o Movimento Sou de Algodão que une a cadeia têxtil brasileira, que tem como propósito não só incentivar e informar a respeito do algodão produzido no Brasil, mas também valorizar as muitas mãos envolvidas neste trabalho.
Artigo – Seis anos de Movimento Sou de Algodão.pdf
Por: Silmara S. Ferraresi (Gestora do Movimento Sou de Algodão e Assessora da Presidência da Abrapa)