Sustentabilidade impulsiona evolução da cotonicultura brasileira
Em duas décadas, uma revolução ocorreu na cotonicultura brasileira. O País, que era segundo maior importador de algodão na safra 1996/97, tornou-se segundo maior exportador mundial no ciclo 2018/19. A busca por uma produção cada vez mais sustentável é o que explica essa transformação – e esse foi o foco central da participação da Associação Brasileira de Produtores de Algodão (Abrapa) na plenária de Fibras da Conferência Anual da International Textile Manufacturers Federation (ITMF), que ocorre em Davos (Suíça).
A plenária, que reuniu os principais players da indústria têxtil mundial, foi realizada no domingo (18) e a palestra levada pela Abrapa teve como tema “Sustentabilidade como Estratégia Principal: O Caso do Algodão no Brasil”. A apresentação mostrou como tem sido a experiência brasileira na produção responsável da fibra, tendo o programa “Algodão Brasileiro Responsável” (ABR) como grande fator de avanços na cotonicultura nacional.
Em vigor desde 2012, o programa ABR é o protocolo brasileiro de certificação socioambiental, que avalia o cumprimento das leis brasileiras ambiental e trabalhista, além de boas práticas agrícolas e uso racional de insumos pelas fazendas participantes. Pautado pelo conceito de melhoria contínua, o ABR acaba estimulando, na prática, a eficiência na produção, o investimento em qualidade da fibra e rastreabilidade da pluma cultivada no País.
Em sua apresentação, o diretor de Relações Internacionais da Abrapa, Marcelo Duarte, mostrou como a grande adoção dos cotonicultores ao programa ABR fez com que o Brasil se destacasse na produção responsável em larga escala.
“Na safra 2019/20, o Brasil representou apenas 11% da produção mundial, mas respondeu por 37% do fornecimento de algodão sustentável do mundo”, enfatizou Duarte, usando dados do relatório Textile Exchange de 2021. “O cotonicultor brasileiro está em linha com a demanda mundial por fibras sustentáveis e rastreáveis e tem feito seu dever de casa. Continuamos crescendo, ampliando e investindo em novas ações para avançamos”, destacou o diretor de Relações Internacionais.
A grande adesão ao protocolo do ABR explica porque, no Brasil, produzir algodão é cultivar com responsabilidade. “O programa ajuda os produtores brasileiros a se organizarem melhor em relação à produtividade, à eficiência no uso de insumos e a atenderem as legislações trabalhista e ambiental do Brasil. Por isso, dizemos que o ABR tem sido um norteador do crescimento da produção de algodão no País”, afirma Júlio Busato, presidente da Abrapa.
Na safra 2020/21, 84% da produção nacional foi certificada pelo programa ABR.
Benefícios. Não é apenas o produtor que ganha com a certificação. O comprador (seja doméstico ou internacional) tem recebido um produto com cada vez mais qualidade, e com o diferencial de que pode ser rastreado desde sua origem e de forma facilitada (pelo próprio smartphone, via código de barras ou QR Code).
Além disso, as propriedades rurais que cultivam algodão e são certificadas contribuem para ampliar os índices de conservação ambiental no Brasil. A eficiência no uso de recursos naturais faz com que o Brasil seja o País com menor pegada no uso de água de irrigação no mundo – consumindo 99% a menos que a média mundial de acordo com o International Cotton Advisory Committee (ICAC). Outro benefício é que as fazendas ABR emitem 41% menos gases de efeito estufa que a média mundial, conforme estudo comparativo a partir de dados da Antesis e da Amaggi.
ITMF. O painel de Fibras do qual a Abrapa participou contou ainda com a presença de Stephanie Silber, da Bremen Cotton Exchange (Alemanha), que falou sobre “O mundo atual do algodão”, e de Marc Lewkowitz, da Supima (Estados Unidos), cujo tema foi “Reconstruindo valor através da autenticidade”.
Na conferência deste ano, a ITMF adotou o tema “Mudanças Climáticas e uma Cadeia de Valor Têxtil Global Sustentável” para chamar a atenção para os desafios de curto e médio prazo a serem vencidos pelo setor.
A International Textile Manufacturers Federation (ITMF) reúne as indústrias têxteis em operação ao redor do mundo. Seu objetivo é municiar os associados com informações qualificadas sobre o setor têxtil, seja com pesquisas, estudos ou publicações. Além disso, promove eventos anuais e atua como um importante centro de informação capaz de sinalizar tendências futuras para o desenvolvimento do setor.
Fonte: Abrapa