Renner prevê cortar emissão de CO2 em 75% nas roupas, diz CEO
O grupo Lojas Renner está iniciando um novo ciclo de compromissos sociais e de sustentabilidade a serem alcançados até 2030, que engloba todas as marcas — do varejo de moda e de objetos para casa até serviços financeiros, incluindo fornecedores.
Entre as metas de agora estão a redução de até 75% da emissão de gás carbônico (CO2) das roupas desenvolvidas por todas as marcas do grupo, como Renner, Ashuae Youcom. No ano passado, a companhia conseguiu reduzir em 35,4% as emissões corporativas absolutas de CO2, em comparação com as emissões de 2017. A meta era diminuir em 20%.
A rastreabilidade de 100% das peças feitas com algodão também faz parte do plano. Um exemplo é que neste ano Renner e a Youcom lançaram as primeiras coleções de jeans femininos rastreadas com tecnologia blockchain no Brasil em parceria com a Associação Brasileira de Produtores de Algodão.
Também há objetivos relacionados à atuação da Repassa, de venda de roupas usadas, da Camicado (de produtos de decoração para casa), e da Realize, braço de serviços financeiros. Bem como metas de indicadores de diversidade: ter 50% do total de cargos de liderança ocupados por pessoas negras até 2030 (18 pontos percentuais acima do nível atual) e 55% da alta liderança formada por mulheres (6 pontos percentuais a mais do que hoje).
“Somos a maior varejista de moda do país e quando trazemos esse tema, sendo referência e fazendo papel de transformação, a gente gera escala e demanda”, afirma o presidente Fabio Faccio em entrevista ao Valor. “Produtos não vendem mais só por serem sustentáveis, mas a sustentabilidade é mais um atributo importante do produto, que tem um valor enorme para a gente e que entendemos que tem um valor crescente para todos.”
“O que está no cerne é uma cultura de sustentabilidade”, completa Regina Durante, diretora de gente e sustentabilidade. “A ideia desde o último ciclo até agora é intensificar e fomentar essa cultura de sustentabilidade em toda nossa cadeia e nosso entorno.”
Antes desse novo ciclo, a empresa havia estabelecido, de 2018 a 2021 metas a serem alcançadas especialmente pela marca Renner. “Começamos a nos provocar de que era importante continuar a jornada, seguir evoluindo nesse sentido e ela deve ser ampliada cada vez mais”, diz o executivo.
Consumo de energia
No ano passado, a companhia reduziu em 35,4% as emissões corporativas absolutas de CO2, em relação a 2017. A meta era de 20%. Também chegou a 100% do consumo corporativo de energia a partir de fontes renováveis de baixo impacto (solar, eólica, pequenas centrais hidrelétrica e biomassa), superando a previsão inicial de 75%. Em 2019, primeiro ano do ciclo anterior de metas, essa fatia era de 37%.
De acordo com Faccio, não há um valor de investimento estabelecido. Vão desde recursos aplicados em iniciativas de pesquisa e desenvolvimento próprias até contratos de longo prazo com fornecedores que vão desenvolver métodos ou soluções de acordo com os compromissos assumidos pela varejista.
“Sustentabilidade também é financeira”, argumenta. “Tem coisas que estão começando e têm custo maior e outras que estão numa fase mais avançada e tem custo até menor do que processos menos sustentáveis. Isso ajuda a manter uma equação bastante equilibrada”, diz o executivo.
Pacote com 12 objetivos
No novo pacote de compromissos são 12 objetivos desdobrados basicamente em três pilares relacionados a temas ambientais; sociais e de conexões com toda a cadeia.
Ainda na frente de sustentabilidade, a companhia quer seguir ampliando a fatia de roupas “menos impactantes”, que são desenvolvidas com processos que dependem menos de recursos naturais ou que diminuem resíduos.
É similar ao que já tem com os selos Re, de moda responsável. As sobras dos cortes dos novos jeans, por exemplo, são desfibradas e voltam a ser usadas na composição de outras peças. Outro exemplo foi a coleção lançada com a Insecta no ano passado, que reproveitou mais de 4 mil metros de sobras de tecidos.
O objetivo era ter 80% das peças à venda na Renner atendendo aos critérios do selo Re. Ao fim de 2021, eram 81,3%, superando a expectativa. E, especificamente para o jeans, a empresa criou uma metodologia de pegada hídrica, em que para cada peça do jeans é contabilizado o consumo de água, individualmente. Todos os fornecedores foram certificados nessa metodologia e hoje 50% do volume de jeans tem condições de baixo volume de água na produção.
De olho nisso, uma das metas é que, agora, todas as marcas da companhia contem com fornecedores certificados através de critérios socioambientais — uma meta 100% atingida já para a marca Renner.
Esse objetivo passa pela parceria de desenvolver a cadeia de fornecimento, o que envolve até mesmo fazer alianças com as concorrentes para evoluir nesse elo da cadeia, explica Eduardo Ferlauto, gerente geral de sustentabilidade da Lojas Renner, citando os fóruns e programas criados por todas as varejistas por meio da Associação Brasileira de Varejo Têxtil (Abvtex).
Fornecedores certificados
No caso das lojas Renner, o processo de certificação de fornecedores não é trivial. São cerca de 1.800 fornecedores diretos e indiretos e cada etapa do processo produtivo precisa atender aos critérios socioambientais.
Para isso, diz Ferlauto, o momento é sair da fase mais reativa às questões ambientais e adotar uma posição mais propositiva, em que se trabalha mais a formação e as relações de longo prazo com fornecedores. “O foco está no desenvolvimento da cadeia e não só monitoramento. Sai dessa visão reativa e vai para a fase mais responsável e protagonista”, diz ele citando a criação de workshops e o conteúdo oferecido pelo braço de formação do Instituto Renner, a Universidade Renner. Também intensificou parcerias com universidades e outras organizações como o Sebrae, do qual o grupo é parceiro desde 2015.
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Mídia: Valor Econômico